Quilombo
DENÚNCIA:  A  Construtora Patrimar está construindo um edifício de luxo, com 44  apartamentos  luxuosos, disponibilizados e comercializados, em  território do Quilombos dos  Luízes,   em Belo Horizonte.  Isso é  inconstitucional, uma grande injustiça social, que  agride covardemente  os direitos quilombolas. Cf. texto, abaixo ou em  anexo.
Quilombo dos Luízes  ameaçado
     Belo Horizonte, dezembro de 2010 
Prezados/as, 
O  “Quilombo dos Luízes”, situado no bairro Grajaú,  região Oeste de Belo  Horizonte, MG, vem respeitosamente pedir sua atenção e  colaboração  mediante o exposto a seguir: 
Há no Brasil, hoje, cerca de três mil comunidades  quilombolas. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma  Agrária (INCRA),  as áreas remanescentes de quilombos se encontram tanto  em regiões  rurais como também em centros urbanos. Contudo, as comunidades   localizadas nas grandes cidades estão correndo risco de desaparecerem. A   especulação imobiliária e o tempo despendido no processo de emissão do  título de  propriedade são fatores determinantes para a maior ou menor  possibilidade de  sobrevivência do quilombo. Após decisão, em 2ª  instância, do Judiciário Federal   em Minas  Gerais , o “Quilombo dos  Luízes” viu suas chances diminuírem  ainda mais. 
Estamos  lutando há pelo menos 100 anos para  proteger não só o nosso  território, mas também nossa cultura, costumes, valores  e mística.  Depois de conseguirmos, em 2010, na Justiça Federal, por meio da   atuação da Defensoria Pública da União, liminar para paralisar obras de   construtora em área pertencente à nossa comunidade, a mesma foi  suspensa em instância superior. Mesmo tendo em mãos recente  parecer do INCRA declarando que os  lotes atribuídos ao empreendimento  estão dentro do território quilombola, o  desembargador acatou a  alegação do empreendedor que clamou pelo direito de  propriedade  absoluto (o que não é assegurado pela Constituição de 1988), em   desrespeito ao dirieto dos quilombolas, direito constituicional. Outro  processo está em andamento, pois a expansão imobiliária já reduziu  aproximadamente 60% do terreno original. 
A  Prefeitura de Belo Horizonte continua expedindo  alvarás de construção  porque a regularização fundiária do território caminha a  passos lentos.  Embora o título de propriedade não tenha sido emitido pelo INCRA,  a  Constituição Federal de 1988 já nos garantiu este direito: o  art. 68 do ADCT assegura que “aos remanescentes  das comunidades dos  quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida à  propriedade  definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos  respectivos”. 
Comunidade dos  Luízes 
  Segundo  a definição do INCRA, “as comunidades  quilombolas são grupos étnicos  predominantemente constituídos pela população  negra rural ou urbana,  que se autodefinem a partir das relações com a terra, o  parentesco, o  território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais   próprias”. 
Nossa  história começa antes mesmo da inauguração  da então capital mineira,  ao final do Séc. XIX, quando foi oficialmente abolida  a escravidão. A  saga dos Luízes teve seu início com as uniões entre o ex-escravo   Nicolau e Felicíssima. Desta união, nasceu Vitalino, que, por sua vez,  casou-se  com Maria Luiza, esta, filha de Anna Apolinária, escrava  liberta, com origem   em Nova  Lima , MG, e de Manoel Luiz Moreira.  
Nicolau  recebeu uma gleba de terras à beira do  Córrego Piteiras, hoje, Av.  Silva Lobo, como compensação por trabalhos escravos.  O primeiro  registro de transferência das terras que se tem, data de 1895/1896,   quando teria sido transmitido  6.050 m2 ou   6.950  m2  . Porém, no Relatório Antropológico de  Caracterização Histórica,  Econômica e Sócio-cultural do Quilombo dos Luízes “há  referências  consistentes sobre a existência de um território original, margeando   todo o córrego, denominado Fazenda Piteiras, ocupado pelos filhos de  Nicolau,  com extensão de aproximadamente  18.000 m2 (=   1,8  hectare ). 
Relatório Técnico  Antropológico 
Em 2005,  o  INCRA deu início ao processo de regularização fundiária de nossa  comunidade. Um  dos pilares desse procedimento é o Relatório  Antropológico de Caracterização  Histórica, Econômica e Sócio-cultural  realizado pela Universidade Federal de  Minas Gerais. 
O  documento concluiu que a área caracteriza-se, de  fato, como uma  comunidade quilombola e alerta: “(...) Este território está  marcado,  como se verá, por intensa competição espacial com outros segmentos   sociais, agravada nas últimas décadas com perdas importantes de espaços  vitais e  tradicionais, obrigando o grupo a assumir defesas contínuas,  de todo tipo de  posse dos limites originais do espaço, muitas vezes em  vão ou com pouco sucesso,  dado o considerável poder político e  econômico dos novos ocupantes”. 
Para  que o Quilombo dos Luízes não desapareça,  peço que se mobilizem e  partilhem conosco esta luta que não é só nossa, pois se  trata da  preservação de um patrimônio histórico e cultural. 
Atenciosamente, 
Quilombolas da Comunidade dos Luízes