Imagem representando um Orí de Yawò.   


Olukó Brad Pághanni de Oxalá

            É muito coloquial, vermos as pessoas que praticam o candomblé falar que possuem fundamentalmente dois Orixás: um é o pai e outro é a mãe. Mas, se pararmos para analisar, será que essa conjectura prossegue?

            A idéia de que o homem possui dois Orixás, parte do cabeçalho: a observação da natureza. Todos os animais se procriam a partir da união de um exemplar masculino com outro feminino. Daí tirou-se a conclusão de que nossa cabeça, ou nosso espírito é equilibrado tanto por energia masculina quanto feminina,  exatamente como no mundo material. Pode até ser, mas não no sentido denotativo. Feminino e masculino é muito mais profundo do que podemos imaginar.

            A cultura Ioruba nos mostra que,  determinadas tribos tinham um Orixá como representante. Logo, todos os integrantes daquela tribo eram automaticamente protegidas por aquele Orixá.

            Aqui no Brasil, quase começou assim. Porém, não.
Aqui no Brasil, o culto aos Orixás tomou outro rumo. Aliás, tomou vários outros rumos, que distanciaram significativamente os cultos praticados anteriormente pelos africanos em seus países e territórios de origem.

            Partindo da observação da procriação das espécies, podemos ver hoje em dia, pessoas falando que são de, por exemplo, Yemanjá com Ogum. Caracterizam geralmente, Yemanjá como a mãe e Ogum como o pai.

            Do ponto de vista mais tradicional, outras pessoas dizem que são, por exemplo, de Oxossi, porque sua “tribo” é comandada e protegida por Oxossi. Assim, homens e mulheres, independentemente de quem sejam – são automaticamente deste Orixá.

            Mas, existe um terceiro ponto de vista.
Esse ponto de vista não é muito explorado.
Não se baseia na tradição tribal como proteção de um único Orixá, e muito menos na observação da procriação das espécies. Baseia-se nos princípios do culto ao Orí.

            No culto a Orí, podemos ver estudos que mostram as camadas energéticas que constituem nosso Orí. São inúmeras, porém, as principais são quatro – representando – respectivamente, todos os quatro elementos da magia e suas significações.

            A união de todas essas camadas, somadas com uma série de fatores, que englobam o nosso cotidiano, e até mesmo, a nossa genética material – são fatores que constroem o nosso Orixá.

            Tendo como base o culto ao Orí, vemos que nós, seres humanos, possuímos apenas um Orixá. Esse Orixá resume todo nosso perfil psicológico, qualidades e defeitos, entre outras coisas a serem postas em evidência. No, entanto, essas outras coisas já entram em mérito de um assunto que abrange Odú. Todos sabem que Odú é a programação comportamental, quase que genética a qual o Orixá se “padroniza”. Ou melhor... É padronizado.

            Com isso, por conta de nossa individualidade e ÚNICA CABEÇA, nós possuímos apenas um Orixá. Se nós possuíssemos mais de uma cabeça, ou tivéssemos pelo menos dupla personalidade, poderíamos dizer que temos dois Orixás, mas, logo seria uma tese descartada, perdendo automaticamente o lugar para a afirmação de que o “Orí está doente”.


Orí Mejí Existe?

            A questão sobre a duplicidade energética de um Orí, é realmente muito debatida. Há quem diga que Orí Mejí se trata de uma cabeça com dois Orixás (o caso de pai e mãe). Há quem diga também, que, Orí Mejí, é o templo caracterizado pela união de dois Orixás traçados por um mesmo Odú, gerando uma qualidade em especial e duas qualidades em comum.

            O culto a Orí é o primordial. Sem ele, nada seria possível: culto a Orixá, culto aos ancestrais, culto a natureza... Nada!

            O culto a Orí nos ensina que nós temos uma individualidade. Nós somos um (1). Nós somos únicos. Possuímos apenas uma (1) cabeça, um (1) cérebro... Logo, seria absolutamente impossível uma pessoa ter dois Orixás, ou então, dois Orixás traçados no mesmo Odú caracterizando duas qualidades em comum que gera essa suposta duplicidade.

            Então, para finalizar, podemos afirmar piamente que Orí Mejí é mito! Não existe. É invenção.