Alagoas se diferencia na disseminação da cultura afrodescendente no Brasil
Encontros reluzem a diversidade da cultura afro (Foto: Thiago Sampaio )
Porém, há uma singularidade que transformou a Terra de Zumbi dos Palmares como ponto inicial para a disseminação da cultura afro em uma de suas vertentes para outros estados do país. A informação é do historiador, pesquisador Célio Rodrigues, o “Pai Célio”, um dos grandes difusores da religião de matriz africana no Estado.
“Com o fenômeno ocorrido em 1912, conhecido como o ‘Quebra’ em que os praticantes de religião de matriz africana foram expulsos do Estado, o grupo étnico africano da Nação Xambá se ramificou por vários Estados do Nordeste, principalmente em Pernambuco”, informa Pai Célio.
“Mas o primeiro estado em que os xambás se instalaram foi Alagoas direto do continente africano, daí a singularidade”, completa.
De acordo com Célio, atualmente pouco mais de 30 terreiros em Maceió ainda conservam a prática xambá.
O “Quebra” foi um fenômeno extremamente violento ocorrido em 1912 quando as várias vertentes de manifestações religiosas de matriz africana sofreram terríveis perseguições.
No caso da nação Xambá, apesar de os orixás serem praticamente os mesmos do camdomblé, existe bastante diferença na forma de culto.
Na nação Xambá, os toques sempre são as 16h da tarde. Em todos os toques é servido aos filhos de santo da casa e aos convidados um café com manguzá, que é tradição da casa.
Em relação aos que visitam os cultos, não é o uso de roupas pretas e o homem deve se vestir de calça (nunca bermuda, short ou camiseta regata).
Um dos mestres da nação xambá na época era Artur Rosendo Pereira, natural de Maceió, que foi iniciado pelo Mestre Inácio, tendo ido à Costa da África buscar os Axés, em Dakar, no Senegal. Migrou de Alagoas para o Recife, no início da década de 1920, fugindo da perseguição aos terreiros alagoanos, introduzindo em Pernambuco, os ritos e tradições da Nação Xambá.
“Em verdade, 1912 é considerado uma diáspora do candomblé em Alagoas”, avalia Pai Célio.
“Acredito que esse episódio realmente contribuiu para endossar a questão do preconceito em relação às religiões de matrizes africanas aqui em Alagoas. Mas se entendido na sua essência com estudo e verificando as raízes das práticas, o desconhecimento desapareceria e a visão deturpada daria lugar ao endendimento”, considerou a professora Clara Suassuna, coordenadora do Núcleo de Estudos Afros Brasileiros (Neab), da Universidade Federal de Alagoas.
“Se for compreendido como deve, as pessoas logo observariam que na essência, as manifestações de matriz africana - quer na religiosidade, na culinária ou em outros aspectos - dão valor à beleza, ao respeito aos idosos, aos direitos humanos, à vida”, complementa Maria Alcina Ramos, do Fórum da Diversidade também ligada ao Neab.
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