Por Maria José Rosado-Nunes *
SÃO PAULO, Brasil, 31 de maio de 2011 (IPS) - O Brasil é visto como um país de fé, diversas e profundas. Mas, embora a religião é um ponto de referência importante na vida da população, a extensão da diversidade religiosa no país alastrando, não é tão difundida como a crença em si.
Apesar de todo o mundo, a imagem do Brasil está ligada às tradições e religiões Africanas, olhando para o Censo 2000, o sociólogo Flávio Pierucci constatou que o Brasil é, na realidade, um país cristão, de fato, talvez o maior país cristão do mundo.
Alguns 73,8 por cento da população, se chama católica, 15,4 por cento, evangélico, um total de 89,2 por cento do povo cristão. Há apenas 0,3 por cento da população identificados como adeptos das religiões africanas, como o Candomblé e Umbanda.
Olhando para esses números Pierucci pergunta: Onde está a nossa diversidade religiosa proclamada? É verdade que estes identificadores rígidos não levam em consideração o que chamamos de "pertença múltipla", ou seja, a prática comum no Brasil, das pessoas que se dizem católicos, mas ir regularmente a cultos de Candomblé, ou, de qualquer outra religião: eu vou Missa aos domingos e visito a minha Mãe de Santo no ''abassa'' às sextas-feiras.
E ainda assim, a hegemonia do cristianismo tem ramificações políticas, apesar da codificação da separação entre Igreja e Estado no âmbito da Constituição de 1891 no Brasil. Durante a campanha presidencial de 2010, a religião foi usada para sustentar pontos de vista conservadores, especialmente sobre a sexualidade e as questões reprodutivas.
Focos culturais (incluindo o direito de gays e lésbicas de uma união legal e da legalização do aborto) se tornou o foco de inflamadas discussões públicas. Este investimento em argumentos dogmáticos, durante uma campanha política foi bastante incomum para o Brasil, mesmo que a cultura esteja impregnada de valores religiosos e da taxa de observância religiosa é muito elevada. Em campanhas anteriores, símbolos religiosos e princípios doutrinários não eram tão diretamente colocada.
Mas o uso do dogma religioso para lutar contra os valores políticos, mostra o importante papel público que as religiões, particularmente a Igreja Católica, ainda tem na sociedade brasileira e buscam influenciar o processo político. Aqueles que acreditaram em secularismo, ou, pelo menos, a separação entre religião e estado, foram obrigados a se opor à intervenção agressiva religiosa.
Os pontos de discórdia com uma tendência crescente de anti-religiosidade no país. Em cada censo, o número de pessoas que se declaram "sem religião" cresce mais.
Juan Marco Vaggione, um sociólogo argentino, argumenta que "as narrativas religiosas são publicamente articuladas e se tornam matéria discutível, não só por grupos seculares, mas também por aqueles que, sendo religiosos, não concordam com alguns aspectos da doutrina oficial."
De fato, durante a campanha eleitoral de 2009, um caso se tornou uma causa célebre. Uma menina de nove anos, estuprada pelo padrasto e fez grávida, procurou um aborto legal. Quando sr. bispo tentou impedir a rescisão de que a gravidez, as reações e debates nos meios de comunicação não veio apenas dos setores seculares da sociedade civil, mas também, de membros da igreja, outros Bispos, sacerdotes e pastores protestantes, oferecendo provas, como resultado , de formas de pensamentos dissidentes internos para as igrejas.
Após as eleições de outubro de 2010, evangélicos, grupos organizados no Congresso, haviam aumentado sua presença, de 43 para 71 membros. A campanha eleitoral e o foco dos grupos religiosos na garantia das posições no Parlamento, obriga-nos a considerar questões fundamentais em torno do papel público das religiões nas sociedades modernas e os estados seculares.
São estas intervenções públicas da Igreja Católica, e, esses pastores protestantes eleito para o Parlamento, uma violação do princípio democrático e constitucional da separação Igreja / Estado, cadê a ''separação'' ???????
Ou, pelo contrário, isso é uma demonstração, e em conseqüência, da aceitação da democracia, uma que permite que grupos religiosos e instituições participem no debate público sobre questões de interesse maior da sociedade?
O debate público sobre o emergente papel da religião na política brasileira, anuncia um cenário mais diversificado e complexo religioso na sociedade do Brasil, que promete ser emocionante ver e viver.
* Maria José Rosado Nunes, é professor de pós-graduação de sociologia da religião e dos estudos feministas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas (CNPq).
Este artigo, é parte da série "Religião, Política e Espaço Público", em colaboração com as Nações Unidas da Aliança das Civilizações e seu projeto de Especialistas Globais (www.theglobalexperts.org).
As opiniões expressas nestes artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente os da Organização das Nações Unidas da Aliança das Civilizações ou das instituições a que os autores são afiliados.
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