Com a filha de João/Antônio ia se casar/mas Pedro fugiu com a noiva/na hora de ir para o altar”. Tão comuns no dia a dia e nas cantigas de roda, estes nomes ganharão homenagens especiais da comunidade católica durante o mês de junho. E não são apenas os santos mais populares que receberão atenção especial. De 1º a 30, todos os dias estão ligados a uma santidade, cujas histórias marcam a trajetória cristã e a vida de seus fiéis.
Há oito anos o Santo Casamenteiro conquistou Monika Fonseca. Ela conta que ficou mais próxima de Santo Antônio quando ganhou a imagem de uma amiga no dia do aniversário. “Depois daí comecei a guardar santinhos, terços e outras imagens referentes a Ele. Desde então as graças foram sendo alcançadas à medida que minha fé foi crescendo”, garante.
Fé que invadiu a casa, rotina, objetos de decoração e até o guarda-roupa de Monika, que também demonstra sua devoção com ações solidárias em nome de Santo Antônio, ao final da trezena de todos os anos. “Ter uma sustentação, divina ou de outra formação, ajuda a confiarmos mais em nós e principalmente buscar e manter um equilíbrio na família, trabalho e em todas as relações sociais que formamos em nossas vidas. Santo Antônio é ajuda para o meu dia a dia”, afirma.
HUMILDADE
Na casa da família Moreira a fé também está em todos os detalhes. Seja no altar onde ficam as imagens religiosas ou nas pinturas das paredes, o clima é de devoção permanente. Com espaço para todos os santos. “Desde criança freqüento a Paróquia de Nazaré e mantenho uma rotina diária de orações e atividades eclesiásticas. E não importa o convite, se coincidir com os meus horários eu dispenso. É um compromisso de vida”, explica a dona de casa Rosinete Moreira. Devota de São Pedro, ela conta emocionada parte da história do apóstolo e faz questão de ler sua oração. “Ele foi um exemplo de humildade e nos mostra que quem tem fé é mais feliz porque sabe que mesmo diante de situações de difíceis Deus está conosco”, conta.
Com 84 anos, a mãe de Rosinete, Dona Maria, demorou a definir um santo específico para devoção. E após décadas de estudos cristãos, escolheu um dos menos conhecidos, mas nem por isso menos importante: São Marçal. “Ele foi um personagem constante na história de Jesus e presenciou muitos milagres divinos, sempre se doando para os mais pobres. E, claro, o fato de eu ter nascido no dia dele (30 de junho) também contribuiu”, diz bem sorridente.
POPULARIDADE
Segundo o cientista político Humberto Dias, a popularidade dos santos juninos é resultado do conjunto de significados que a igreja atribuiu às entidades. “Temos referências de que já no século XVI Frei Vicente, em Salvador, organizava atividades para atrair novos cristão com fogueiras, fogos de artifícios, brincadeiras e missas celebradas ao ar livre. Valia tudo para estender a fé católica, inclusive idolatrar de forma festeira, como nas religiões pagãs, ícones de grande expressão cristã”, frisou.
Humberto também ressalta que a festividade se torna ainda maior porque as religiões afro-descendentes também prestam homenagens no mesmo período. “Há um sincretismo religioso cujas origens remontam à época da escravidão, quando o negro não podia ter sua própria fé e era obrigado por seus senhores a rezar para santos católicos”, explica. A maneira encontrada para não abandonar as crenças tradicionais foi equiparar as imagens de santos católicos a seus orixás, ainda que de forma aleatória. Dessa forma, Santo Antônio tornou-se Ogum, São Pedro virou Xangô e São João, Oxossi.
Estudioso da trajetória cristã, o padre José Barbosa também admite a combinação de fatores históricos para a popularização dos santos, mas não se detém às explicações pragmáticas e assegura que trajetória de fé e o exemplo de vida destes personagens foi o principal impulsor de sua abrangência em todo o país. “São Pedro foi um dos discípulos mais importantes e o fundador da Igreja Católica. São João Batista, na verdade, foi um profeta de seu tempo, anunciando o messias e batizando-o no Rio Jordão e Santo Antônio conseguiu difundir bastante o Evangelho entre o povo. As famas de festeiro e casamenteiro, atribuídas [respectivamente] a eles, são secundárias”, afirma.
E é justamente a valorização de aspectos menos importantes que incomoda o padre. “Não sou contra festas juninas, acho que todos têm direito à diversão consciente e respeitosa. Mas acho triste que as pessoas hoje só lembrem dos santos nas músicas ou nas superstições, sem ao menos conhecer a palavra divina ou participar das atividades promovidas pela igreja, que também são muitas durante todo o mês de junho”, ratifica.
Com ou sem devoção, na quadrilha, nas novenas ou num terreiro de candomblé, a certeza é que junho é tempo de comemorar, da maneira própria de cada um. “É muita festa, oração e comida boa num mês só”, brinca Humberto.
OS SANTOS MAIS POPULARES DO MÊS DE JUNHO
Santo Antônio
Santo Casamenteiro - 13 de junho
Santo Antonio de Pádua nasceu em Lisboa no ano de 1195. Após um período na Ordem dos Agostinianos ele decidiu se integrar à ordem franciscana, onde, logo nos primeiros discursos, mostrou eloquência e sabedoria extraordinárias, tornando-se pregador itinerante. Na devoção popular, Santo Antonio é considerado o “santo casamenteiro” e protetor dos pobres.
São João
Santo Festeiro - 24 de junho
São João, o Batista, filho de Zacarias e Isabel, é considerado o precursor de Jesus Cristo. Personagem bíblico, foi João quem batizou Jesus às margens do Jordão. É considerado o “santo festeiro” e a comemoração faz-se no dia do seu nascimento, dia 24 de junho. É o protetor dos casados e enfermos.
São Pedro
Guardião do Céu - 29 de junho
São Pedro foi discípulo de Jesus e o primeiro papa pela Igreja Católica. Seu nome original era Simão, tinha a profissão de pescador e por isso é também considerado o protetor daqueles que trabalham no mar. A comemoração é no dia 29 e na devoção popular costuma-se dizer que São Pedro guarda a entrada do céu, sendo responsável também pela chuva de cada dia.
colaboração (última hora) Diário do Pará
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