22 de abr. de 2014

Realização de um Sonho!

Grupo Afoxé Omô embarca nesta terça para se apresentar em festival dos Estados UnidosO New Orleans Jazz & Heritage Festival é um dos eventos de música mais importantes do país!

Publicação: 22/04/2014 09:42


Respeitados em festivais culturais locais, 15 integrantes viajam pela primeira vez para fora do país. Foto: Fundarpe/Divulgação
Respeitados em festivais culturais locais, 15 integrantes viajam pela primeira vez para fora do país. Foto: Fundarpe/Divulgação

A rotina se tornou mais intensa na sede do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma representação de matriz afro-brasileira encravada no Ibura, no Recife. Os ensaios ficaram mais frequentes desde a proximidade da primeira viagem internacional do grupo, marcada para a noite desta terça, às 21h.

Até o feriadão da Semana Santa cedeu espaço para afinar o som e a dança com os quais os integrantes se fizeram vistos e respeitados na comunidade onde o grupo foi fundado, há dez anos. Quinze dos quase 40 membros fixos embarcam rumo aos Estados Unidos para participar de um dos mais significativos eventos musicais do país, o New Orleans Jazz & Heritage Festival, dentro de uma programação com lendas internacionais do calibre de Eric Clapton, Christina Aguilera, Santana e Bruce Springsteen. Serão sete dias de apresentações para mais de 400 mil pessoas - público estimado da edição de 2013.

O convite ao grupo pernambucano partiu de um representante do evento norte-americano durante o 8º Festival Lula Calixto, realizado no ano passado, em Arcoverde. O ritmo carregado de religiosidade atraiu o olhar estrangeiro. “Quando ele nos viu, disse que tínhamos elementos ligados à música de Nova Orleans”, conta o diretor-geral do Afoxé, Dario Junior. A ponte entre os estilos musicais das duas localidades é inegável.

Identidade

O Afoxé Omô nasceu, diz o dirigente, como porta-voz do candomblé cultuado nos arredores do Ibura. Era uma forma de peitar, através do emprego da arte, o racismo e o preconceito contra a expressão religiosa de origem negra. O trabalho artístico andou de mãos dadas a oficinas, palestras, debates sobre raça, identidade, gênero e a outros mecanismos de inclusão social.
Na outra ponta, a cidade de Nova Orleans é considerada berço do jazz norte-americano, gênero associado à comunidade negra. O início do festival em 1970 - hoje ele está na 45ª edição - contou com a participação de Mahalia Jackson, ícone da música gospel dos Estados Unidos e uma das vozes ouvidas no histórico discurso de Martin Luther King pela igualdade entre negros e brancos (o famoso Eu tive um sonho…).

“Ir para Nova Orleans é a consequência do nosso trabalho”, observa Dario Jr, também membro do Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial do Recife. Em solo norte-americano, o grupo deve mostrar as composições recentes incluídas no álbum Odara (2014) e outras sobre o povo negro capazes de dialogar com a plateia do evento. A cantora Nalva Silva está animada com a vitrine internacional para o grupo: “É muito boa a chance de levar o trabalho para fora do país.


Principalmente no berço da cultura negra. Uniu o útil ao agradável”. Integrante do Voz Nagô e Batucafro, ligado ao percussionista Naná Vasconcelos, ela é pedagoga em duas escolas públicas e, assim como outros integrantes do Afoxé, utiliza o conhecimento profissional a favor da formação da comunidade do Ibura. Nos EUA, serão 50 minutos em cada uma das apresentações - com direito a troca de figurino - marcadas para os dias 25, 26 e 27. Grupos de Minas Gerais, da Bahia e de outros estados também representam o Brasil no festival.

 (Fundarpe/Divulgação)

Omônilê

História

O Afoxé Omô Nilê Ogunjá (filho da casa de Ogunjá) surgiu em 2004, no Ilê Axé Babá Olufã, no Ibura. O grupo se vale de ações artísticas para dar voz às bandeiras religiosas e sociais defendidas pelos integrantes.

Grupo chega a ter 120 integrantes durante o carnaval. Em 2012, abriu a festa no Recife, no Marco Zero. Em 2013, participou do Festival de Inverno de Garanhuns.

Produção

O Afoxé possui dois discos gravados: Berço dos Ancestrais (2008) e Odara (2014)

Dois documentários ajudam a contar a história do grupo: Ikimòjadé (2011), sobre o batismo pelo Afoxé Filhos de Gandhy, um dos maiores do país, e Sou eu (2012), com a trajetória da instituição e a relação da comunidade com a religiosidade de matriz africana. Ambos disponíveis na íntegra no YouTube.

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