15 de jan. de 2011

Evangélicos e os Acarajés


No candomblé desde o tempo em que todos se respeitavam

Por: Valdina Pinto - Fonte: globo.com                                     



O currículo de Valdina Pinto explica por que esta baiana de 66 anos é referência para as comunidades negras de Salvador. Educadora do bloco afro Ilê Aiyê, ela é reconhecida como mestra nos ambientes intelectuais nacionais e internacionais pela articulação entre a prática e a teoria da sabedoria bantu e membro do Conselho Estadual de Cultura da Bahia e do Fórum Cultural Mundial.
Em sua estreia no blog, a makota do Terreiro Tanuri Junsara, da nação de Angola - que costuma dizer que não quer ser tolerada, mas respeitada em sua crença - fala sobre os ataques ao candomblé e afirma que, por trás deles, haveria preconceito racial, questões políticas e econômicas. Confira a seguir:
Entrevista:

Há quanto tempo a senhora faz parte do candomblé?
Eu estou com 66 anos e entrei para o candomblé mesmo em 1975, mas desde minha infância que eu vivo às voltas com o candomblé, porque a minha mãe era do candomblé e eu cresci nesse ambiente. Aqui no bairro onde nasci e vivo até hoje naquele tempo havia muitos terreiros, das mais variadas nações. Depois que chegaram as outras igrejas: católica, adventista, batista, testemunha de Jeová. Mas não tinha essa falta de respeito que a gente vê hoje, as pessoas se respeitavam. A sociedade brasileira ainda é muito preconceituosa, discrimina muito e acho também que isso é uma manifestação racista. Embora a nossa religião não seja só de negros, a crença vem de uma tradição negra.

Quando essa intolerância começa a ficar evidente? Eu posso dizer que na década de 70, com o crescimento das religiões cristãs neo-pentecostais. A partir dessa época é que começam os ataques aos seguidores do candomblé.
E como é que os seguidores têm lutado contra esses ataques? A gente tem procurado fazer manifestações, como caminhadas e campanhas, e buscar os direitos junto aos órgãos competentes, ao Ministério Público, para que o nosso direito de crença seja assegurado.
Seria uma minoria? Eu não diria uma minoria não. Porque esses grupos têm crescido muito ultimamente, e muitas vezes eu fico sem saber até que ponto eles fazem esses ataques em nome mesmo da fé. Observo que por trás há uma questão política e econômica. Até do comércio do acará, chamado de acarajé, que sempre foi um comércio do povo do candomblé, ultimamente se apropriaram. Estão vendendo acarajé e dizendo que é bolinho de Jesus.


Obs.
O Acarajé , comida ritual ( Adimu ou Ajeun) da orixá Iansã . Na África , é chamado de àkàrà que significa bola de fogo , enquanto je possui o significado de comer . No Brasil foram reunidas as duas palavras numa só, acara-je , ou seja, “comer bola de fogo”. Devido ao modo de preparo, o prato recebeu esse nome. O acarajé , o principal atrativo no tabuleiro, é um bolinho característico do candomblé . Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas, Oxum e Iansã .



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