Na Lavagem do Bonfim, em Salvador, cabe o sagrado e o profano
Fiéis chegam à Igreja do Bonfim, no Alto da Colina
Foto: Gustavo Maia / NE10/Bahia
Na festa da Lavagem do Bonfim, em Salvador, tem lugar para o sagrado e para o profano. Há espaço para o pagode, para o frevo, para o samba. Quem quiser tocar arrocha, toca. Católicos convivem lado a lado com seguidores de candomblé. Enquanto baianas vestidas à caráter jogam água de cheiro no adro da Igreja do Bonfim, no Alto da Colina, pais e mães de santo benzem quem transita pelos arredores da catedral com folhas de arruda.
O Senhor do Bonfim, do Catolicismo, é tão homenageado quanto o orixá Oxalá, do Candomblé. Prova mais que cabal do tão famoso sincretismo religioso baiano. É uma celebração democrática, sem cordas e sem preconceito. Quem encara os oito quilômetros de caminhada entre a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia ao Bonfim para agradecer anda ao lado de quem saiu de casa apenas para se divertir, para a esbórnia. E tudo segue bem.
Quem tem fé, vai a pé. O ditado é levado a sério pela aposentada gaúcha, Maria Antonieta Braga, 70 anos, sendo os últimos 40 vividos na Bahia. Devota de Senhor do Bonfim, há 12 anos ela não perde uma procissão. E faz questão de ir junto com a filha, a arquiteta Adriana Braga, 39. "Essa energia é muito boa. Viemos, acima de tudo, agradecer ao nosso Senhor do Bonfim", comentou dona Maria.
A baiana Edna Nascimento dos Santos já carrega os traços do tempo no rosto. Preferiu não dizer a idade, mas contou que há cinco anos participa do cortejo, sempre vestida com o indumentário completo de "baiana", com direito a turbante, mesmo quando o termômetro marca quase 35ºC. "Só de saber que estou ajudando a salvar o pai Oxalá é uma emoção maravilhosa. A fé é tão grande que eu nem sinto calor", declarou.
Durante o trajeto, orquestras animam a multidão. Os moldes dos festejos se assemelham ao do Carnaval de Olinda, guardadas as devidas proporções. A diferença, neste caso, é que, além do frevo - muito bem recebido pelos baianos - toca-se pagode, axé, MPB, arrocha e até uma versão da música "I Will Survive", que é considerada um hino gay. Diversidade não falta. Quem também participou do desfile foi o afoxé Filhos de Gandhy.
De acordo com estimativa da Secretaria de Turismo da Bahia (Setur-BA), em 2011, cerca de 1 milhão de pessoas participaram da procissão. Os números de 2012 ainda não foram divulgados.
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