5 de jan. de 2011

Arranjador de hits de Ivete Sangalo monta orquestra inspirada no candomblé

Ivete Sangalo com o saxofonista, percussionista e arranjador Letieres Leite.
Ivete Sangalo com o saxofonista, percussionista e arranjador Letieres Leite. (Foto: Divulgação)
Ivete Sangalo talvez não tivesse se tornado a estrela pop da axé music sem a ajuda de Letieres Leite, 50. Percussionista e saxofonista que acompanha a cantora há 12 anos, o músico baiano foi o responsável pelos arranjos de muitos sucessos da morena, incluindo “Festa”, “Empurra-empurra”, “Tô na rua” e “Abalou”. Enquanto se prepara para acompanhar a musa no carnaval – com apresentações que vão de sexta (12) à próxima terça-feira em Salvador – o artista divulga o lançamento do primeiro álbum de sua Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz.
No projeto, a mesma matéria-prima presente nos álbuns de Daniela Mercury e Olodum, por exemplo, é usada para compor um repertório instrumental que remete à obra do músico pernambucano Moacir Santos. “Como arranjador de vários grupos na Bahia [Olodum, Daniela Mercury, Timbalada e Cheiro de Amor entre eles], para mim a questão rítmica sempre foi uma preocupação", diz Letieres. "Na Rumpilezz, eu preferi procurar algo a partir do universo percussivo baiano. Tudo vem do candomblé, de uma maneira ou de outra. Nós somos formados de várias nações, e essa mistura criou um grupo rítmico extremamente original. A mistura feita no Brasil é única.”
Formada por 19 músicos, a big band deve retornar a São Paulo para apresentações em março, depois da maratona carnavalesca, já que um dos maiores desafios de tocar com Ivete Sangalo é acompanhar o pique da cantora nesta época do ano. “Geralmente tocamos seis horas direto, sem parar. Começamos às 13h e vamos até as 19h, em pé. Às vezes saímos com a perna inchada, um pouco baqueados. Mas esse é o nosso ‘fitness’, e eu já fiz muitos carnavais. Tem que ter um preparo físico”, afirma o artista, praticante de luta marcial.
O músico baiano Letieres Leite e sua Orkestra Rumpilezz. (Foto: Divulgação)
Em uma de suas apresentações mais recentes ao lado de Ivete, Letieres teve a oportunidade de conhecer a cantora norte-americana Beyoncé. "Entregamos a ela um disco da Rumpilezz. Me disseram que ela tem a mente aberta para vários gêneros musicais."

Principalmente por causa do axé, Salvador é um ambiente fértil, e a maioria dos músicos tem conhecimento rítmico, segundo Letieres. Os componentes da Orkestra Rumpilezz (cinco percussionistas e 14 instrumentistas de sopro, da tuba à flauta) tocam com grandes artistas baianos, como Carlinhos Brown, ou são percussionistas ligados aos terreiros de candomblé, responsáveis pela música no momento da cerimônia. O nome da banda, aliás, vem dos três atabaques do candomblé (rum + rumpi + lé) somados aos dois “zz” da palavra jazz.
“Entregamos um disco da Rumpilezz para a Beyoncé”
Letieres Leite começou a “alinhavar as primeiras ideias” no tempo em que estudava no Konservatorium Franz Schubert, em Viena, na Áustria, onde morou por seis anos. De volta ao Brasil, montou uma escola chamada Academia de Música da Bahia, onde começou a desenvolver suas pesquisas. “Foi quando consegui unir os dois mundos – a tradição dos terreiros com o aprendizado no conservatório”, diz.
“A Orkestra Rumpilezz surgiu dessa pesquisa e as pessoas estão vendo o universo percussivo da Bahia com outros olhos. A música alternativa, que não gera um grande negócio, não dá um grande retorno, sempre existiu. Mas nos últimos quatro anos está havendo o surgimento de uma cena consistente em Salvador que vai da sonoridade do Rumpilezz ao rock, a exemplo de grupos como Cascadura e Retrofoguetes. Ainda está um pouco tímida, mas a tendência é crescer. Acho que é natural haver um desgaste [no universo da axé music.”
Mantendo a conexão direta com a África e ao mesmo tempo sob um tratamento harmônico totalmente novo, o álbum homônimo de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz foi mixado no lendário estúdio Legacy, em Nova York, por Joe Ferla, que já trabalhou com Miles Davis, Herbie Hancock e John Mayer.
“Um amigo botou o disco para tocar, o Joe passou por perto e perguntou o que era. Ele achou que fosse um grupo afro-cubano, depois pensou que fosse algo da Nigéria. Esse amigo deu uma cópia para ele e uma semana depois recebi o convite para fazer a mixagem”, conta. “Ele conseguiu manter tudo sem a interferência de efeitos, e o resultado final ficou bem fiel ao que imaginávamos. Foi como um conto da Cinderela.”

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