Festejo aos orixás no Terreiro de Pai Adão
Davi Lira 
Especial para o JC Online
O candomblé sobrevive até  hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade absoluta.  Para o etnólogo com sangue baiano Pierre Verger, falecido em 1996, ao  contrário da maioria das religiões, esse culto de origem  afro-brasileira, com mais de quatro séculos de história, confere certo  grau de dignidade aos descendentes de escravos como nenhum outro rito.
"O que eu acho é que na Bahia  há um certo prestígio e orgulho em ser negro, por causa do candomblé".  Segundo Verger isso pode ter a ver, inclusive, com o fato dessa religião  ser também admirada pelos brancos. Sem perder de vista, é claro, e não  deixando de considerar toda a essência ritualística e da vasta riqueza  dessa tradição iorubá (grupo étnico da África Ocidental que influenciou o  candomblé local).
De acordo com os  organizadores da 4ª caminhada dos terreiros de matriz africana e  afro-brasileira do Estado, ocorrida no dia 4 de novembro no Marco Zero  do Recife - proposta com o objetivo de lutar contra a intolerância  religiosa, depois da Bahia, Pernambuco é o segundo estado com maior  contingente de negros do País. O Estado ainda é autoproclamado como o de  maior população de candomblé, umbanda e jurema (outros dois ritos de  matriz africana); e como um dos estados de maior culto no País dessas  religiões.
"Somente aqui existem cerca  de 800 terreiros vinculados à Abycabepe, que tem como ponto central o  Museu da Abolição da Madalena (Zona Oeste do Recife)", afirma o  presidente da Associação dos Babalorixás e Yalorixás dos Cultos Afros do  Estado de Pernambuco, Manoel do Nascimento Costa, o pai de santo do  Terreiro de Pai Adão. Segundo "Papai", como é conhecido, somente ligado  diretamente à Casa de Água Fria existem cerca de 65 pessoas, todas  descendentes de populações quilombolas e com ancestrais africanos  vivendo no mesmo terreiro. Todos participando efetivamente da rotina de  reverências às divindades sagradas, que não são diárias, na verdade,  acabam sendo bem ocasionais.
No candomblé não existe vida  pós-morte e tudo é guiado por uma lei de santo. São regras de conduta,  principalmente a ser cumprida dentro dos terreiros, que não estão  contidas em nenhum tipo de livro sagrado, e que podem variar de terreiro  para terreiro. "Apesar desse aspecto difuso, as práticas estão  completamente fundamentadas em uma rica mitologia transmitida de geração  a geração", afirma o pesquisador da Universidade de São Paulo, Armando  Vallado, a partir de um amplo estudo sobre o tema, que vincula a forte  hierarquia dos terreiros aos conflitos que surgem nas estritas regras  que são impostas aos filhos de santo, tudo em nome da fé nos orixás,  invocados principalmente através das cantigas de xirês durante os  festejos religiosos (os toques).
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