13 de dez. de 2012

Foto: Kleidir Costa/SPM
Entrada do Terreiro Ilê Axé Ayrá Izô, em Brotas

O governo do Estado deverá solicitar à Justiça, nos próximos dias, a ampliação do prazo para cumprimento da sentença judicial que determina a desocupação da área do Terreiro Ilê Axé Ayrá Izô, localizado em Campinas de Brotas, em Salvador.
A informação foi dada nessa terça-feira (11/12) pelo secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Almiro Sena, durante visita ao espaço religioso, juntamente com a secretária de Políticas para as Mulheres, Lúcia Barbosa, lideranças religiosas e do movimento negro.
A ida ao local aconteceu após o governador Jaques Wagner garantir que o Estado fará as intervenções necessárias em favor do templo religioso, cujo terreno é alvo de disputa judicial. O secretário Almiro Sena, afirmou que pedirá 180 dias de prazo, tempo para o governo encaminhar os trâmites de declaração de utilidade pública e desapropriação da área, se for o caso.
“Expressamos nossa disposição para garantir o direito constitucional do livre exercício de culto”, disse. “Queremos ratificar o propósito do governo de respeitar a religiosidade do nosso povo, as diferenças de raça, religião e de gênero”, reforçou a secretária Lúcia Barbosa.
Disputa
O terreno em disputa tem 878m², área que teria sido doada por Antônio Gagliano, já falecido, cujos familiares alegam direito à posse. O caso está sendo acompanhado pela 11ª Vara Cível de Salvador.
A preocupação dos movimentos envolvidos na preservação das religiões de matriz africana diz respeito ao risco de violação do direito da liberdade de crença, no espaço religioso que há décadas realiza suas atividades na comunidade.  


Colaboração: Tribuna da Bahia

3 de out. de 2012

EM DESTAQUE


Sacerdotes distribuíram nota de repúdio à atitude do vereador Amauri Colares

Os grupos de sacerdotes e sacerdotisas das religiões de matrizes africanas já divulgaram, desde a quinta-feira (13), pelas 8 mil casas de candomblé e umbanda de Manaus, uma carta repudiando o informativo distribuído pelo vereador e candidato à reeleição, Amauri Colares (PSC), que destaca as ações da bancada evangélica da Câmara Municipal contra os religiosos de raízes africanas e a criação do “Parque dos Orixás”.

Manaus (AM), 30 de Setembro de 2012
LÚCIO PINHEIRO



O vereador Amauri Colares disse que manterá a distribuição do informativo
(Divulgação)


Os grupos de sacerdotes e sacerdotisas das religiões de matrizes africanas já divulgaram, desde a quinta-feira (13/09), pelas 8 mil casas de candomblé e umbanda de Manaus, uma carta repudiando o informativo distribuído pelo vereador e candidato à reeleição, Amauri Colares (PSC), que destaca as ações da bancada evangélica da Câmara Municipal contra os religiosos de raízes africanas e a criação do “Parque dos Orixás”.
Para Jean Marius Clement, membro da Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia (Carma), a postura do vereador Amauri Colares destoa do comportamento que se espera de um homem que recebe um mandato público. 
“A gente fica indignado com tudo isso. De um homem público esperamos outro tipo de discernimento”, afirmou o pai de santo.
Intitulado de “Câmara contra Parque dos Orixá’”, o informativo nº 02, publicado em agosto deste ano, traz informações sobre o projeto de lei que visava à criação de um espaço público para a realização de manifestações religiosas do candomblé e umbanda. O projeto, de autoria da vereadora Lúcia Antony (PCdoB), não chegou nem a tramitar na Câmara Municipal de Manaus (CMM). No documento, Amauri Colares alega ser contrário ao projeto por questões religiosas.                    
 Parlamentar
O vereador Amauri Colares disse que manterá a distribuição do informativo. Segundo o parlamentar, ele não faz nada além de manifestar uma opinião, o que também é resguardado pela Constituição brasileira. O político foi denunciado ao Tribunal Regional Eleitoral e à Polícia Civil por apologia ao ódio religioso.
(A íntegra deste conteúdo está disponível para assinantes digitais ou na versão impressa). ACRÍTICA.COM

Mãe Stella comemorou 73 anos de consagração no candomblé

Mãe Stella fez parte do primeiro barco das iaôs de mãe Senhora, terceira líder do Opô Afonjá

O Ilê Axé Opô Afonjá esteve em festa. A líder religiosa do terreiro, Ìyalorixá Maria Stella de Azevedo Santos, completou 73 anos de iniciação religiosa na quarta-feira, dia 12/09.  Mãe Stella, aos 87 anos de idade, integra um seleto grupo de sacerdotisas com mais de 70 anos de consagração ao candomblé.
"O aniversário de iniciação religiosa é muito importante. É quando se nasce para uma nova vida. É renascimento", diz mãe Stella. A consagração foi feita por mãe Senhora, uma das grandes sacerdotisas do candomblé brasileiro, terceira a liderar o Afonjá desde a fundação, em 1910.
Além de mãe Stella, já somam sete décadas de iniciadas - dentre as líderes de terreiros tradicionais da Bahia -  mãe Xagui e mãe Zulmira de Nanã.  Mais alta sacerdotisa do terreiro Tumbence, localizado no Pero Vaz, mãe Xagui tem 75 anos de consagrada. Mãe Zulmira de Nanã, do Tumbenci, em Lauro de Freitas (Grande Salvador), completou 70 anos de iniciada.
História - A iniciação de mãe Stella é um dos marcos históricos do Afonjá. "Foi o primeiro barco (nome que se dá ao grupo de iniciados) colocado no Afonjá por mãe Senhora, logo após o governo da fundadora, mãe Aninha", relata o ogã José Ribamar, presidente da Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé  Opô Afonjá, a representação civil do terreiro.
Mãe Stella assumiu o Afonjá em 1976, substituindo mãe Ondina. Em 1983, ela lançou manifesto em que reafirmava o candomblé como religião e considerava o sincretismo, a associação com santos católicos, uma necessidade histórica já superada.
O manifesto foi endossado por dirigentes de outros terreiros tradicionais: mãe Menininha do Gantois, mãe Teté da Casa Branca, mãe Olga de Alaketo e mãe Nicinha, do Terreiro Bogum.
A partir de então, mãe Stella se consolidou como uma das grandes lideranças do candomblé  brasileiro. "É uma questão de herança. Herdei a missão de tomar conta dessa Casa. É trabalhoso, mas é gratificante ter a condição de servir mais de perto aos orixás, com mais responsabilidades", acrescenta.
Livros - Mãe Stella é autora de cinco livros: E Daí Aconteceu o Encanto, escrito em parceria com Cléo Martins e publicado em 1988; Meu Tempo É Agora, de 1993; Òsósi - O Caçador de Alegrias, de 2006;Owé - Provérbios, de 2007; e Epé Laiyé - Terra Viva, de 2009.
Desde março do ano passado, mãe Stella tornou-se articulista do A TARDE. Os artigos são publicados, quinzenalmente, às quartas-feiras. É a primeira vez no Brasil que uma ialorixá  torna-se articulista regular em um jornal de grande circulação.
Portal A Tarde/ Salvador, por Cleidiana Ramos

O tratamento espiritual do candomblé tem o poder de renovar a auto-estima e afastar as energias negativas de quem procura ajuda nos terreiros.


Quantos segredos escondem as conchinhas dos búzios? Como elas conseguem adivinhar as angústias da alma e até os males do corpo?
"Aqui pra mim está surpreendente a sua melhoria, tá?”, disse Elson Sena, babalorixá.
Mais uma boa notícia. Confirmação de que Ranfly está livre da tuberculose ganglionar: uma doença que ataca o sistema linfático na região do pescoço.
"Quem me conheceu antes, no período da doença e me vê hoje fica surpreso. Foi muita diferença, bastante, eu perdi muito peso mesmo, fiquei muito debilitado", contou Ranfly dos Reis, técnico em radiologia.

Durante um ano, ele seguiu à risca dois tratamentos: o da medicina tradicional, com todos os remédios indicados, e o do candomblé, com seus banhos de ervas e rituais.
"Já recebi alta do tratamento. Não tomo mais o medicamento. A tuberculose sumiu. Até a glândula que eu tinha no pescoço, enorme, não precisei operar, ela sumiu", revelou Ranfly.
O oráculo não é um simples jogo de adivinhação. O pai ou a mãe de santo devem estudar muito para entender os conceitos do candomblé. Pai Elson precisou de sete anos para completar sua formação.
Luciene foi pedir socorro porque entrou em depressão diante de uma suspeita de câncer de ovário. O pai de santo observa atentamente o que os búzios têm a dizer. E define um tratamento para ela seguir junto com as recomendações médicas.
"Três dias de banho, tá vendo? Esse aqui é o seu começo. Após cada banho você vai acender uma vela pro seu anjo da guarda, vestir roupas claras e não vai estar se expondo nas ruas, nada disso. E o primeiro banho seu vai ser lá no terreiro, e depois você começar esses daí", disse Pai Elson.
O novo caminho de Luciene começa no Mercado das Sete Portas, um dos mais movimentados de Salvador. É como se fosse uma farmácia onde se pode comprar os remédios receitados pelos orixás.
Para os sacerdotes dos terreiros, pais e mães de santo, as folhas e as ervas têm um grande poder terapêutico nos tratamentos recomendados pelo candomblé. Mas elas só funcionam se forem associadas a uma boa dose de fé. Aquela fé que encoraja, que ajuda o espírito a enfrentar as doenças.
Por apenas R$ 5, Luciene conseguiu todas as folhas da receita. Num mercado especializado como esse, dificilmente alguém vai embora sem levar tudo o que está na lista.
“O povo do candomblé consome muito isso, porque antes de fazer qualquer tipo de trabalho, a pessoa toma o banho pra poder limpar o corpo. E depois do banho vai partir para o trabalho", afirmou o comerciante Odilon dos Reis.
No dia seguinte, Luciene vai a pé para o terreiro. Ela mora na mesma cidade, Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.
Orientada por uma filha de santo, ela segue rigorosamente todas as obrigações ritualísticas antes do banho de folhas.
Cantigas na língua dos orixás. Pipoca para afastar os maus espíritos. Durante todo o banho de descarrego, Pai Elson reza pedindo a cura.
"A partir de agora os caminhos pra ela estariam abertos, é isso?”, perguntou o repórter.
“De minha parte. Agora ela vai precisar continuar com a fé porque ela tem alguns banhos pra tomar na residência, e retornar ao médico pra repetir alguns exames que normalmente eu indico", respondeu Pai Elson.
O tratamento espiritual do candomblé tem o poder de renovar a auto-estima e afastar as energias negativas de quem procura ajuda nos terreiros. Sem influências negativas, o paciente fica mais fortalecido para enfrentar o que tiver que ser feito num tratamento médico. Essa é uma das principais conclusões da pesquisa do professor Fábio Lima, antropólogo da Universidade Federal da Bahia.
"O candomblé é um parceiro da medicina. Da mesma forma que é o espiritismo, que é o catolicismo. Mas o que difere nos terreiros de candomblé é que o tratamento é muito mais efetivo porque se dá de modo afetivo. Então, as mães de santo e os pais de santo acolhem essas pessoas acometidas de qualquer problema de saúde de modo muito mais amoroso", disse Fábio Lima.
"Saio mais disposta. Esse tratamento no candomblé funciona. Se você tiver fé, funciona. Eu tenho fé. Mas não vou deixar o tratamento médico não. Tem que continuar”, afirmou Luciene Santana, empregada doméstica.
Quem vê João Pedro não imagina o que ele já passou. A mãe teve toxoplasmose no final da gravidez. O filho foi salvo na maternidade à base de antibióticos e corticóides. Mas num caso assim, dificilmente a criança escapa de lesões no cérebro e graves problemas de visão.
"E o candomblé ajudou muito. E minha fé também. Porque não adianta você estar numa religião e não acreditar. Eu acreditei muito, tive muita força do meu esposo, que me dava força, e de meu pai Elson, principalmente", contou Heloísa Santos, professora de educação física.
O tratamento, nesse caso, foi todo com a mãe. E a infecção gravíssima do bebê desapareceu três meses depois do nascimento.
"O médico me disse semana passada que eu fiz uma consulta, Heloisa, ele teve realmente a infecção. Suspendeu todos os medicamentos dele, não precisa fazer o medicamento durante um ano. Está quase curado”, disse Heloisa.
É, é só olhar para o bebezão.
Em dia de festa no terreiro, o salão fica lotado. Quem pode, vem agradecer e reverenciar os orixás. Há quem precise cumprir determinadas obrigações. É o que Ranfly faz desde que se tornou um filho de santo.
Mas a maior autoridade da casa é de Pai Elson. Nada acontece nesse terreiro sem a autorização dos deuses africanos que ele incorpora.
"Essa dança é justamente os pontos de invocações a essas energias. A cada orixá nós temos um tipo de dança. Que é simbólico ao procedimento, como eles procederam, como eles agiram em sua época", revelou Pai Elson.
A herança dos orixás está à disposição de quem precisar de ajuda. E o caminho é o mesmo das outras correntes que buscam a cura no mundo espiritual.
"Em todos os momentos, em todos os locais, o cosmo faz essa conexão conosco. Mas a gente precisa ter confiança e fé. E se eu tenho confiança e fé em mim, eu tenho tudo o mais que está ao meu redor, então, eu conquisto sim", afirmou o babalorixá.

Reportagem exibida na Rede Globo por JOSÉ RAIMUNDO

5 de jun. de 2012

AGENDA CULTURAL



DOCUMENTÁRIO: ÁGUA DE MENINOS

Retratar costumes da sociedade soteropolitana ligados à feira livre, fazer uma retrospectiva dos últimos 50 anos do maior mercado a céu aberto da Bahia e conduzir o espectador numa narrativa histórica, revelando a luta do feirante em imagens. Estes são alguns objetivos do documentário Água de Meninos – A Feira do Cinema Novo, da cineasta e roteirista baiana Fabíola Aquino, que conta com participação especial do ator Antonio Pitanga. O lançamento do filme poderá ser conferido, gratuitamente, nos dias 11 de junho, no Cine Cena Unijorge, às 20h, e no dia 12 de junho (Dia dos Namorados), na própria Feira, em duas sessões: às 18h30 e às 20h.         

Com 52 minutos de duração, o filme conta a história das feiras em quatro tempos: a Feira de Água de Meninos, o Cinema Novo produzido na Feira, seu incêndio, em 1964, e o hoje, em São Joaquim.  Exibida com suas diversidades em cores fortes e marcantes, a Feira de São Joaquim e sua gente traz situações que remetem ao passado, embora estejamos em pleno século XXI. Essa vibração e efervescência contaminou a equipe de produção do documentário que, em meio a artigos de candomblé, barracas de artesanatos, carnes, frutas, verduras e uma infinidade de produtos, teve o cuidado de captar a essência da Feira, com depoimentos e entrevistas de diferentes personalidades.         

O documentário também retrata um “olhar feminino” sobre a feira livre. Além da diretora Fabíola Aquino, a equipe é composta por outras duas mulheres: Claudia Chavez (montagem), e Laura Bezerra (pesquisa). Essa conjunção reflete um resultado sensível desse olhar feminino. “Nos encanta, por exemplo, ver o sentimento das pessoas que entendem a Feira como uma grande mãe. Uma pessoa que chega à feira cedo, sem dinheiro algum, mas, na conversa, consegue ‘comprar fiado’. Essa mesma pessoa trabalha, revende os produtos, paga o que deve e ainda volta para casa com algum dinheiro. Essa é uma representação maternal de uma relação comercial que só se vê na feira livre”, define a diretora.  


Onde: Cine Cena Unijorge, no shopping Itaigara, às 20h (segunda-feira, 11 de junho); e Feira de São Joaquim, no Galpão Água de Meninos, às 18h30 e 20h (terça-feira, 12 de junho)          
Quando: dias 11 e 12 de junho 
Quanto: gratuito
Informações: www.aguademeninosdoc.blogspot.com

ORIGINALIDADE SURPREENDE


Candomblé no Pará ainda é original

Érika Morhy

Assim como as religiões cristãs, os cultos afro-brasileiros também reservam inúmeras diferenças e semelhanças entre si, construindo uma história no Pará que aos poucos começa a ser contada e sistematizada. Pela primeira vez o Candomblé é posto na berlinda enquanto projeto de pesquisa e deverá se transfigurar em livro no próximo ano, com o término da pesquisa iniciada em 2000 pela cientista social Marilú Márcia Campelo.

Doutora em Antropologia, Marilú já chegou a lançar uma obra sobre a Umbanda no Rio de Janeiro. Em Belém, as referências eram Napoleão Figueiredo e Anaíza Vergolino. "Me surpreendi em saber que aqui não tinha só Mina e que o Candomblé, tipicamente baiano, ainda estava por ser estudado. Por isso também meu interesse", justifica Marilú.

A primeira etapa de trabalho já se encerrou. Ela descobriu a localização dos terreiros, os municípios e bairros em que se concentra o maior número deles, as principais lideranças e a história dos adeptos que realizam festas e rituais afro-brasileiros, selecionando o Candomblé como área de estudo, paralelamente ao trabalho de Taíssa Taverna, que optou pela Mina. A previsão é que a segunda fase seja concluída até setembro de 2004, definindo um perfil do sincretismo entre as duas religiões, o que preservam como tradição e o que introduzem como inovação na sua estrutura.

Segundo Marilú, a Federação Espírita de Umbanda e Cultos Afro-brasileiros, seção Pará, registra uma média de 1.600 terreiros na Grande Belém e Castanhal. "Precisamos confirmar se todos estão em funcionamento e também temos de considerar que existe a subnotificação", pondera. Desse total, cerca de 600 casas são de Mina, em menos de 100 se pratica Candomblé e as demais são umbandistas, que têm predominância na região. Ela diz que os números são pequenos, se comparados com algumas das principais capitais do país, como Recife, Salvador e Rio de Janeiro, mas ultrapassam os de São Luiz - "até porque a população de lá é menor".

 O paralelo com a capital maranhense é constante e tem lá suas razões históricas, retroativas à colonização que reuniu Pará e Maranhão numa única província. A migração populacional entre os dois estados ainda hoje é grande e abre espaço para que se reivindique a paternidade da Mina no Pará aos vizinhos. "Mas temos de considerar que aqui também há presença africana, uma concentração de 220 comunidades quilombolas. É uma população que descende não só da África ocidental, mas também de povos mais antigos do centro sul", adverte Marilú. No entanto, as populações afro que se estabeleceram na zona rural, segundo ela, são católicos. A Umbanda, a Mina e o Candomblé são cultos urbanos. Foi na cidade que puderam se organizar e formar comunidades que, na época, eram as próprias irmandades religiosas, como as de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Irmandade de São Benedito e de Santa Bárbara.

A origem dos grupos que se estabeleceram na região e o modo de organização deles também determinam as especificidades de cada culto. A Mina, por exemplo, é característica do Maranhão, Pará e Amazonas e está ligada à presença dos escravos vindos da costa ocidental africana, mais propriamente aos povos de língua fon. Já o Candomblé tem na sua genealogia os povos iorubás, do país que hoje se conhece por Nigéria.

Ao contrário do que acontece no Maranhão, no Pará não há município específico onde se identifica maior número de terreiros nem de casas matrizes de iniciação, o que também ocorre em Salvador e Rio de Janeiro. "E talvez essa seja uma das grandes dificuldades dos pesquisadores da área que, aqui, vão precisar bater de porta em porta. A única referência para se obter informações mais amplas é a federação", revela Marilú. Ela acredita que a falta de uma casa de raiz e mesmo de pessoas que sejam referência na disseminação do culto na região se dá pela sua recente difusão na cidade. "É do final da década de 70, quando Astianax foi iniciado no Candomblé, na Bahia, e voltou com o culto para Belém. Isso motivou outros adeptos a irem procurar uma casa matriz em Salvador, abrindo novos terreiros aqui. Ele é a única referência, e morreu este ano. Nos outros estados, o grande momento de organização do culto se deu a partir do século XIX", conta Marilú.

As casas vão se abrindo principalmente em bairros de periferia e a Pedreira, apesar de já estar mais urbanizada, ainda mantém a tradição, seguida do Jurunas, Guamá, Benguí e Maguari, num movimento liderado principalmente por homens. Para a coordenadora do Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro-brasileira, seção Pará, Mametu Nangetu, que mora no bairro do Marco e tem um terreiro no mesmo endereço, é difícil manter uma casa de Candomblé no centro da cidade, "porque temos árvores sagradas que acabam tendo de ser podadas para não incomodar a vizinhança; porque os clientes são constrangidos com os comentários jocosos dos moradores da redondeza; porque temos de limitar nossos batuques, para não criarmos desavenças na área. Sei dos direitos dessas pessoas, mas por que as igrejas continuam com som alto, outras fazem procissões nas ruas e eu não posso praticar o ritual que escolhi do jeito que deve ser?", reclama. Ela também acredita que houve avanços e a novidade deste ano foi a oficialização do Dia Municipal da Umbanda e dos Cultos Afro-brasileiros. Os adeptos escolheram o 12 de março por acreditarem ter sido a data do primeiro batuque no formato da Mina maranhense na cidade, quando Mãe Doca fez a festa à Dom José.

 Marilú garante que o conflito entre adeptos de diferentes religiões é um dos motivos para a visibilidade mais acanhada de terreiros de Belém. "Você só os encontra nos movimentos organizados ou em eventos como os da consciência negra, porque eles têm o cuidado de não expor seus símbolos em função do preconceito, forte na cidade se compararmos com São Paulo, Rio e Cuiabá, por exemplo. Mas os candomblezistas ainda se apresentam mais que os mineiros". Ela define a postura dos grupos como projeto político e lembra que a notoriedade do trabalho de Pierre Vergé só foi possível pela aquiescência dos adeptos. E os símbolos migraram tanto, acrescenta, que a prática já é comum na Alemanha, Portugal, EUA, Argentina e Uruguai, levada por brasileiros e que já iniciaram filhos de santos por lá.

O número de adeptos ainda não foi mensurado. Segundo Marilú, a Fundação Palmares ainda não pode liberar os dados do censo realizado em 2001 e 2002 nas principais capitais do país, incluindo Belém. Mas é indiscutível que muitas pessoas conciliam a prática de diferentes religiões, num sincretismo que também se expressa de duas maneiras na estrutura dos próprios cultos. Como explica Marilú, um se dá entre o catolicismo e os afro-descendentes. “Dia 4 de dezembro, pa ra o Catolicismo é dia de Santa Bárbara. Para o Candomblé, do orixá Yansan. Para a Mina, de Bárbara Soaeira”. E o outro, entre os próprios cultos afro-descendentes. “Você vai encontrar terreiro de Mina falando em voduns e orixás também. E no de Candomblé, em caboclos”, exemplifica. Esta categoria de sincretismo foi a que motivou o projeto "Tradição e inovação: um estudo sobre a Mina e o Candomblé na Amazônia". Ela diz que, até agora, não encontrou especificidades basilares no Candomblé paraense, como já acontece com a Mina, por isso mesmo chamada no estado de Mina-Nagô. "Por enquanto, eles praticam como aprenderam na fonte, a forma de cultuar os santos, de se vestir, de cantar... apesar de que a pronúncia, a entonação e a velocidade diferem".

Batuques - A antropóloga Anaíza Vergolino dedicou toda sua carreira acadêmica, de quase três décadas, na UFPA, à pesquisa de religiões afro, que ela considera ser o único nível associativo cultural que resiste até hoje. Ela identificou e publicou documentações inéditas sobre os escravos do século XVIII; sistematizou atributos mais vinculados aos cultos afro na região; e registrou a musicalidade da Umbanda e Mina-Nagô encontrada na região, numa ação que resgata pesquisas da década de 50 realizadas por Mário de Andrade. Essa linha resultou na chegada de dois CD´s ao mercado, com o selo "A música e o Pará", patrocinados pelo Governo do Estado: "A música de culto afro-brasileiro na Amazônia" e o duplo recém-lançado "Ponto de santo". Os dois têm encarte documental, reproduzindo parte das pesquisas de Anaíza, fotos dos terreiros, partituras e a letra das toadas.

"É importante para eles o resgate dessa memória. Mas também é muito clara pra mim a distinção que eles fazem entre fundamento, que é o conteúdo doutrinário deles, repassado de forma oral, e conhecimento, que é o tipo de trabalho de pesquisa que eu faço. E, além disso, todos esses trabalhos, inclusive o do professor Vicente Salles, que se dedica mais à inserção social do negro, vêm nos mostrar que essa presença africana aqui no Pará não foi tão pequena como se pensava; foi muito maior do que a história havia contado", ensina.

ESPECIALIDADE DA CASA



Restaurante Clandestino tem menu especial inspirado no Candomblé
Claudia Lima,
Do UOL, em São Paulo

Os orixás do Candomblé, suas cores e sabores são o tema dos jantares da nova temporada do Clandestino. Anexo do restaurante Dui, é ali que a chef Bel Coelho faz suas criações mais ousadas.

Chef faz jantar especial em homenagem aos orixás do Candomblé

A salada de ervas e brotos com granizado de hortelã serve para "limpar" o paladar e reverencia Ossaim, deus das ervas
O menu reverencia com propriedade a tradição da cozinha africana e -por que não dizer- brasileira. São 13 pratos, cada um deles homenageando um orixá seja através de suas comidas típicas, ou das cores que os representam.

A ideia do cardápio surgiu através da irmã da chef, pesquisadora das danças desta religião. "Comecei a me interessar por este universo e pelas histórias e pensei que isso poderia virar um menu". conta Bel, que se sentiu à vontade para fazer uma interpretação destes pratos. "No início, minha maior dificuldade foi ser totalmente fiel à comida de santo, mas no final, me inspirei também nas cores e na mitologia", completa.

Assim, pratos já conhecidos chegam à mesa em nova roupagem, em forma de espumas, caldos e esferas. Caso do acarajé, prato oferecido à Iansã (deusa dos ventos) e Obá (deusa das guerras), líquido, acompanhado de caldo de vatapá, farofa de camarão seco e vinagrete, ou do caruru (prato de Cosme e Damião ou Ibejis),  camarão grelhado com molho de amendoim e castanha de caju, quiabo grelhado e uma cápsula de azeite de dendê.

Oxalá tem sua cor, o branco, representada no prato pela vieira grelhada, mil folhas de palmito pupunha com cogumelos e espuma de inhame. Iemanjá, a rainha do mar, é homenageada com robalo grelhado com pérolas de leite de coco, capim santo e areia de coco.

A refeição é finalizada com um prato para Oxum, deusa da riqueza e do ouro, na sobremesa feita com ovos moles, sorvete de gema, banana ouro, melaço de cana e caramelo de coco e gengibre.

O Clandestino funciona apenas às quintas-feiras e é necessário fazer reservas, já que há apenas  20 lugares. O menu custa R$ 195 e fica em cartaz até o final de 2012.

Serviço:
Clandestino no Dui
Al. Franca, 1590
Tel.(11) 26497953

21 de mai. de 2012

''TERRAS NACIONAIS'' É SUA???


DIREITOS HUMANOS


Mano Brown: a luta do Brasil é a distribuição de terra
Details Published on Monday, 21 May 2012 16:07
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Da Página do MST





O MC Mano Brown, do Racionais MCs, visitou um edifício ocupado por trabalhadores sem-teto, no número 360 da rua Mauá, no centro de São Paulo, para a gravação do clipe Marighella, na quinta-feira (17/5).

Em discurso à comunidade, Brown disse o problema do país é a distribuição de terra e a garantia de moradia.

"A luta do Brasil é a distribuição de terra. Só que muitos deles que falam da distribuição de terra são latifundiários também. Tem muita terra improdutiva lá. Por que eles são herdeiros dos caras que tinham muita terra. E eles não dividem terra com ninguém", falou Brown.

O MC do Racionais atacou o candidato pelo PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, o atual prefeito Gilberto Kassab e o governador do estado Gerando Alckmin.

"O problema do Brasil é moradia. Se a gente tiver espaço, um quntal razoável, pros nossos filhos poderem correr, crescer com saúde... (...). Só queremos espaço pra viver - nem melhor nem pior, mas igual", defendeu.

Abaixo, ouça o discurso de Mano Brown


Abaixo, ouça a música Marighella, em homenagem ao militante comunista que faria 100 anos em 5 de dezembro de 2011, que teve uma militância política de mais de 30 anos nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e atuou na guerrilha urbana, quando foi assassinado pela ditadura em 1969:



5 de mai. de 2012

A ARTE EM TRÊS LAGOAS


A Câmara Municipal, em parceria com o ator e promotor cultural Mateus Alves, promove, de 7 a 11 de maio, a exposição "Toque Afro", mostra que relata a presença do negro na cultura brasileira. A abertura da exposição será às 9h, no Salão de Eventos da Câmara, e contará com apresentações culturais alusivas ao tema e homenagem a diversas personalidades negras que se destacam em Três Lagoas. Os preparativos e montagens no Salão de Eventos foram inciados durante essa semana.
No dia 7, às 19h, o evento ainda terá uma palestra sobre a condição do afro-descendente brasileiro, com a professora-doutora Raimunda Luzia de Brito, coordenadora especial de Políticas para Promoção da Igualdade Racial da Assembleia Legislativa. A palestra é aberta ao público em geral, sobretudo estudantes.
A exposição trará objetos do acervo pessoal do curador, Mateus Alves, que reuniu equipamentos de uso no trabalho, no cotidiano e até de tortura de escravos. "Nosso relato começa desde a vinda dos negros para o Brasil até as influências que deixaram nas artes, esportes, no dia-a-dia e na culinária", afirma Mateus.
Entre os homenageados estarão o ex-prefeito José Lopes; a líder comunitária Daura do Nascimento; o diácono Jorge Silva; o violeiro e pedreiro Alcir Batista de Oliveira; o professor de educação física Milton José da Silva, o Tó; a professora Wilma Rodrigues de Souza; o atleta Messias Carneiro Dias; o músico Éderson Veloso da Silva; o professor de música Gercino Francisco; o policial federal, poeta e colunista René Venâncio; o ex-vereador Antônio Rialino; a professora e carnavalesca Inozemar; os jornalista Ana Cristina Santos e Adilson Silva; e o professor de futebol Pedro Machado, o Pedrinho.
Segundo o presidente da Câmara, vereador Nuna Viana, a exposição "Toque Afro" tem o objetivo de apresentar ao público três-lagoense um rápido panorama da presença do negro na cultura. "Temos que ressaltar e prestigiar a importância do negro na formação do Brasil. Esta exposição nos mostra objetos e situações que estão na nossa vida e, muitas vezes, não sabemos que foi uma influência dos negros. É um resgate histórico e um reconhecimento à relevância dos negros", afirmou Nuna.
O vereador lembrou que a Câmara Municipal pretende realizar diversas exposições, ao longo de 2012, maximizando a utilização do Salão de Eventos, que é, de acordo com ele, um espaço para uso da comunidade. Em março, o local sediou a exposição fotográfica "Cidade das Águas", sobre recursos hídricos em Três Lagoas, com a visitação de cerca de mil pessoas.

PRÊMIO NACIONAL DE EXPRESSÕES CULTURAIS AFRO BRASILEIRAS


A cerimônia será realizada no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, com a presença de representantes dos 20 projetos vencedores das cinco regiões do país. 

A premiação, que é uma iniciativa da Fundação Cultural Palmares (FCP) e do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (Cadon), com o patrocínio da Petrobrás, será para dez trabalhos de artes visuais, cinco de dança e cinco de teatro. Serão entregues R$ 1,1 milhão em prêmios que devem ser utilizados na montagem e execução das produções culturais. 

O júri foi composto por nove especialistas nas diferentes expressões culturais, que analisaram a excelência artística, histórica e a efetiva contribuição para a cultura afro-brasileira; pertinência do conteúdo à questão brasileira, qualificação dos profissionais e viabilidade técnica de execução, com base no valor do prêmio. 

Para o diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira da FCP, Martvs das Chagas, o resultado destacou a diversidade do projeto: “O número de diferentes cidades que apresentaram projetos, indica o potencial de propagação da ação por todo o país. Prevaleceu a pluralidade dos projetos que representaram as diversas regiões do Brasil. Parabenizo a todos os participantes que, com certeza, contribuem para afirmação da cultura afro-brasileira”, destaca. 

A presidente do Cadon, Ruth Pinheiro, afirma que o prêmio valoriza a cultura afrodescendente em suas manifestações contemporâneas: “A diversidade de projetos concorrentes demonstra a vitalidade da cultura afro-brasileira para além dos grandes centros. Ao contemplar todas as regiões do país, com julgamentos regionalizados, permite uma melhor igualdade das disputas e abre oportunidades para novas iniciativas”. 

Luis Nascimento, da gerência de patrocínios da Petrobrás, disse que esta é uma ação afirmativa que abrirá caminho para outros projetos da cultura negra: “Projetos como este contribuem para levar esta cultura para onde ela realmente merece e tem o poder de criar o hábito de se olhar positivamente para as iniciativas e pode contribuir para gerar outros projetos”. 

Os vencedores nas categorias dança e teatro serão contemplados com R$ 80 mil cada, já os vencedores de artes visuais receberão de R$ 20 mil a R$ 40 mil por projeto. 

Confira os ganhadores: 

Artes Visuais - “Ó que rua tão comprida”, do Rio Grande do Sul; “Vila das Oyas” e “Afro retrato”, de São Paulo; “Objeto/Oriki: corpus e habitus = arte”, de Minas Gerais; “Cavalo de santo”, do Rio de Janeiro; “Terra renascida – Novos olhares para a invernada dos negros”, do Rio Grande do Sul; “A gira” e “Mestre do coco pernambucano”, de Pernambuco; “Quilombos emigrantes – História do cocalinho”, de Tocantis e “Processos do silêncio”, da Bahia. 

Dança - “Aratemiolé”, de Santa Catarina; “Terreiro contemporâneo de dança 2ª edição”, de Minas Gerais; “Festival de danças poéticas negra”, de Goiás; “Quilombo Mimbó”, do Piauí; e “Catirandê – A dança afro do Tocantins”, de Tocantis. 

Teatro - “Quilombo dos Silva: As memórias da negra resistência urbana em um espetáculo teatral”, do Rio Grande do Sul; “Abolição”, de Minas Gerais; “Mães negras – Teatro das Oprimidas”, de Goiás; “Casemiro Côco em lendas emaranhadas”, do Maranhão; e “O grito e os espíritos da terra – Da era cantida aos dias atuais”, do Pará. 

Fonte: palmares.gov.br

GRANDE HOMENAGEM EM SÃO BERNARDO


Da Redação
Participarão do encontro, no Baetão, representantes da umbanda e candomblé / Reprodução
Representantes religiosos da umbanda e candomblé da Associação Federativa da Cultura e Cultos Afro-Brasileiros (Afecab) de São Bernardo do Campo irão realizar, neste domingo (6/5), uma homenagem a São Jorge durante a 3ª Festa de Ogum da cidade, que acontece a partir das 11h, no Ginásio do Baetão. Além de ser uma manifestação religiosa, o evento tem como objetivo preservar a história e a cultura afro-brasileira. A expectativa é receber mais de 3 mil pessoas, entre fiéis e simpatizantes.
A festa contará com diversas apresentações culturais, como maculelê, percussão, capoeira, congada, grupos musicais, balé afro e apresentação de afoxé. Na área externa ao Ginásio vai acontecer a Feira Afro-Brasileira, com a venda de artesanato, roupas, artigos religiosos e comidas típicas.
Faz parte também da programação a carreata que sairá às 13h da Afecab - Rua Maringá, 66, no Jardim Represa - e seguirá em direção ao o Ginásio do Baetão, passando pelas avenidas Galvão Bueno, Maria Servidei Demarchi e Rua Marechal Deodoro. O prefeito Luiz Marinho participará da recepção da imagem, prevista para chegar às 14h ao local do evento. O Ginásio do Baetão fica na Avenida Armando Ítalo Setti, 901, Baeta Neves.

19 de abr. de 2012

VISITA TÃO ESPERADA

Ministra da igualdade racial visita a SE

Publicado em 19 de abril de 2012
Nesta sexta- feira, 20, a ministra de Estado da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, chega a Sergipe a convite da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania (SEDHUC), que realizará a partir das 10h, no auditório da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe (AEASE), o lançamento do catálogo ‘Religiões de Matriz Africana em Sergipe’ e cartilha ‘As religiosidades de Matriz Africana e a promoção da Igualdade Racial’, produzidas pela Secretaria de Inclusão Assistência e Desenvolvimento Social(SEIDES), através do projeto Ododuwá, do Fórum Sergipano das Religiões de Matriz Africana .
O evento contará com exposição de quadros de Orixás de Lígia Borges, cantos Nagô, entrega de kits com material sobre as religiosidades de Matriz Africana e coquetel de comidas típicas afro. A vinda da Ministra fortalecerá o diálogo entre sociedade civil, movimentos e governo, que contribuirá para romper o preconceito e incentivar o respeito à liberdade de culto.
O lançamento dos catálogos e cartilha com a presença da ministra Luiza Bairros representa um momento importante para a política estadual de promoção da igualdade racial e mais particularmente para nossa secretaria de direitos humanos. São políticas afirmativas que levam a uma maior conscientização da necessidade permanente de combate ao racismo, à discriminação, avançando sempre na promoção da igualdade racial, pontua o secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania, Luiz Eduardo Oliva.
Importância para os movimentos
É um momento ímpar para o movimento e para as políticas públicas que o Governo já vem implementando desde 2007 com a criação da Coordenadoria de Política de Promoção de Igual Racial (COPPIR). A vinda da ministra é um salto qualitativo porque somos oriundos de uma política nacional, e será positiva para estreitarmos os laços para a vinda de viabilização de projetos voltados para a promoção da igualdade racial. Para o movimento é uma oportunidade de estar mais próximo da ministra, revela o assessor de políticas da promoção de ações afirmativas da SEDHUC, José Cláudio D'Eça.
As comunidades remanescentes de negros comemoram a vinda da ministra. No Estado há 22 comunidades negras quilombolas reconhecidas, três tituladas. Elas são atendidas em todos os sentidos pela presidência da república e por isso esse contato mais próximo é tão esperado. É uma oportunidade que eles têm de falar diretamente sobre seus anseios, pontua o assessor de políticas voltadas para as comunidades quilombolas da SEDHUC, Pedro Neto.
Cartilha e catálogo
A cartilha e o catálogo Religiões de Matriz Africana em Sergipe são frutos de uma articulação entre o movimento das religiosidades (representado pelo Fórum Sergipano das Religiões de Matriz Africana), Governo do Estado, e Governo Federal que investiu R$ 200 mil para a viabilização do projeto. De acordo com o assessor das políticas de religiosidade de matriz africana da SEDHUC, Irivan de Assis, o catálogo é um pré-mapeamento dos terreiros de candomblé e de umbanda do Estado. Ele nos ajuda a identificar onde estão esses terreiros, para que a história e a identidade das religiões de matriz africana fiquem na memória de todos nós. É a nossa história, afinal, a sociedade sergipana tem uma forte influência da cultura africana e essas comunidades são a própria identidade negra de nosso Estado, explica Irivan.
Já a Cartilha tem uma função pedagógica. Ela contribui para implementação da lei 10.639I 2003, que fala do estudo da história da África e da cultura afro brasileira. O objetivo é que ela seja instrumento pedagógico nas escolas, para que na base educacional das crianças possamos trabalhar a igualdade racial e o respeito às diversidades, complementa Irivan.

BELEZAS DO CAÇADOR DE UMA FLECHA

Afoxé de Odé acontece neste sábado em Aracajú

Publicado em 19 de abril de 2012

O Abassá Maria da Paz, liderado pela sua Ialorixá Silvia de Oxum Apará, realiza neste sábado, 21/04, com saída as 14h, da Avenida Coletora “C”, nº 646, Marcos Freire II, cortejo afro na cidade de Nossa Senhora do Socorro, em homenagem a Oxóssi. Será a primeira vez que um abassá realiza cortejo para um orixá masculino.
Com 18 anos de existência, o Abassá Maria da Paz tem como características a união entre seus filhos e a obediência aos Orixás e a Ialorixá, fato que tem despertado sempre muito respeito pela casa e uma grande expectativa em torno do evento. A organização espera bom público e está confiante que o evento será um sucesso.
Oxóssi, que no sincretismo religioso é relacionado com São Jorge, é a divindade da caça que vive nas florestas. Seus principais símbolos são o arco e flecha, chamado Ofá, e um rabo de boi chamado Eruexim. Em algumas lendas aparece como irmão de Ogum e de Exú.
Oxossi é o rei de Keto, filho de Oxalá e Yemanjá, ou, nos mitos, filho de Apaoka (jaqueira). É o Orixá da caça; foi um caçador de elefantes, animal associado à realeza e aos antepassados. Diz um mito que Oxóssi encontrou Iansã na floresta, sob a forma de um grande elefante, que se transformou em mulher. Casa com ela, tem muitos filhos que são abandonados e criados por Oxum.
Oxossi vive na floresta, onde moram os espíritos e está relacionado com as árvores e os antepassados. As abelhas pertencem-lhe e representam os espíritos dos antepassados femininos. Relaciona-se com os animais, cujos gritos imitam a perfeição, é caçador valente e ágil, generoso, propicia a caça e protege contra o ataque das feras. Um solitário solteirão, depois que foi abandonado por Iansã, e também porque na qualidade de caçador, tem que se afastar das mulheres, pois são nefastas à caça.
Está estreitamente ligado a Ogum, de quem recebeu suas armas de caçador. Ossaim apaixonou-se pela beleza de Oxóssi e prendeu-o na floresta. Ogum consegue penetrar na floresta, com suas armas de ferreiro e libertá-lo. Ele está associado ao frio, à noite, à lua; suas plantas são refrescantes.
Normalmente apresenta-se vestido de verde. Em algumas caracterizações, veste-se de azul-turquesa ou de azul e vermelho. Leva um elegante chapéu de abas largas enfeitados de penas de avestruz nas cores azul e branco. Leva dois chifres de touro na cintura, um arco, uma flecha de metal dourado. Sua dança simula o gesto de atirar flechas para a direita e para a esquerda, o ritmo é “corrido” na qual ele imita o cavaleiro que persegue a caça, deslizando devagar, às vezes pula e gira sobre si mesmo. É uma das danças mais bonitas do Candomblé.
Fonte : JornaldaCidade.Net

A VIDA QUILOMBOLA

Com voto contrário à demarcação de terras quilombolas, julgamento no STF é suspenso

Publicado em 19 de abril de 2012
Com voto favorável do ministro Cezar Peluso, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu julgamento sobre ação do DEM que questiona a titulação de terras quilombolas. Relator do caso, Peluso aceitou a argumentação do partido de que o Decreto 4.887, de 2003, que dispõe sobre os critérios para esta titulação, é inconstitucional porque trabalha questões que podem ser abordadas unicamente por legislação aprovada pelo Congresso. Apesar de favorável à ação, o voto de Peluso mantém a validade dos títulos já emitidos.
“A despropriação referida no decreto é de interesse social. Essa despropriação insere-se em um dos 16 casos de utilidade pública e não de interesse social”, disse Peluso. A sessão foi suspensa por pedido de vista da ministra Rosa Weber.
O DEM aponta ainda na ação direta de inconstitucionalidade que a medida acarreta novos custos ao determinar que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desaproprie áreas particulares para transferi-las às comunidades. O partido discorda também do critério de autodeclaração como quilombola como medida para dar início ao processo de titulação.
O caso despertou grande atenção de entidades pró e contra a entrega de títulos agrários aos remanescentes de quilombos de escravos. De um lado, inscreveram-se como amici curiae, ou amigos da corte, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). De outro, organizações não governamentais de promoção dos direitos humano, como Conectas, Justiça Global e Amigos da Terra.
Segundo estudo da Comissão Pró-Índio, há 110 terras tituladas no Brasil, nas quais vivem 193 comunidades, ou 11.930 famílias, ocupando 971 mil hectares. A estimativa é de que 6% dos 3 mil povos quilombolas no país contem com o título agrário. Em 2011, o governo federal concluiu o processo de apenas uma área.
Fonte: Rede Brasil Atual

21 de mar. de 2012

DOS PEQUENOS GESTOS, NASCEM OS GRANDES ''HERÓIS''

Eloi Ferreira de Araújo: Eliminar a discriminação contra negros


Há 52 anos, em 21 de março de 1960, cerca de vinte mil negros protestavam contra a lei do passe na cidade de Joanesburgo, na África do Sul. Lutavam contra um sistema que os obrigava a portar cartões de identificação que especificava os locais por onde podiam circular. Era uma das lutas contra o apartheid.

No bairro negro de Shaperville, os manifestantes se defrontaram com tropas de segurança daquele sistema odioso. O que era para ser uma manifestação pacífica se transformou em uma tragédia. As forças de segurança atiraram sobre a multidão, deixando 186 feridos e 69 mortos. Esse episódio ficou conhecido como o massacre de Shaperville.

Em memória às vítimas do massacre, em 1976, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

Destacar esse acontecimento é importante para que nunca esqueçamos dessa face cruel do racismo, que não hesita em atirar em pessoas indefesas. Assim, há 36 anos, o dia 21 de março é um marco para a comunidade negra na luta contra o racismo e as discriminações. Ainda hoje, a influência do racismo impede que negros vivam em condições de igualdade com os não negros.

As ações afirmativas de cotas na universidade para os jovens negros, o Prouni, o programa de saúde para a população negra, o reconhecimento das terras dos remanescentes de quilombos, o combate à intolerância religiosa em face das religiões de matriz africana, entre outras ações, trazem para ordem do dia um pouco dos desafios que ainda temos de enfrentar para construir uma sociedade mais igualitária.

Contudo, podemos nos orgulhar pelos avanços dados nos últimos anos. Um deles foi a lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio das escolas pública e particular de todo o país.

Outro foi a lei 12.288, que dispõe sobre o Estatuto da Igualdade Racial. Essa é a primeira lei desde a abolição da escravidão que reúne inúmeras possibilidades para que o Estado brasileiro repare, de uma vez por todas, as desigualdades que são resquícios da escravidão.

A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 2011 como o ano internacional dos povos afrodescendentes. Buscou com isso que os Estados independentes concentrassem ações para reparar as desigualdades raciais.

Visto que foi insuficiente aquele período de tempo, instituiu a década dos afrodescendentes, que será lançada em dezembro de 2012.

É a hora do fortalecimento das ações pela igualdade em todos os países que tenham tido mão de obra escrava como base de seu desenvolvimento capitalista, algo que originou desigualdades raciais de natureza histórica.

O mundo é melhor com as diferenças e diversidades. Vamos continuar avançando na construção da cidadania e do acesso igualitário aos bens econômicos e culturais para negros, indígenas, ciganos e todos os segmentos minoritários da sociedade.

O massacre dos jovens negros de Shaperville será lembrado para sempre. A luta deles nos inspira a caminhar pela igualdade de oportunidades e por sociedades livres do racismo e do preconceito.


* Eloi Ferreira de Araújo é presidente da Fundação Cultural Palmares, órgão vinculado ao Ministério da Cultura

Fonte: Folha de S.Paulo

CINEMA NEGRO E SUAS MEMÓRIAS

Por Jacqueline Freitas

O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira Araujo, acompanhado do diretor de Fomento à Cultura Afro-brasileira, Martvs das Chagas, e do representante regional do Rio de Janeiro e Espírito Santo, Rodrigo Nascimento, prestigiou o lançamento do DVD “Encontros de Cinema Negro Brasil, África e Caribe – Memórias 2007/2011”. O evento ocorreu no centro da cidade do Rio de Janeiro, na sexta-feira (9). O DVD é resultado de um convênio estabelecido entre a FCP/MinC e o Centro Afro Carioca de Cinema, presidido pelo ator e cineasta Zózimo Bulbul.

Na ocasião, também marcaram presença representantes de entidades negras, inúmeros artistas consagrados e novos talentos, não só do cinema, mas também do teatro e da TV. O Encontro de Cinema Negro tem reunido anualmente trabalhos do continente africano e suas diásporas, e o projeto do DVD consiste em uma seleção de filmes de diretores afro-brasileiros.

Em clima de confraternização, ao lado de Zózimo Bulbul e dos participantes do DVD, o presidente Eloi Ferreira de Araujo elogiou a iniciativa do curador dos Encontros e parabenizou os cineastas.

“Esta ponte cultural entre Brasil e África é uma espécie de convocação a um olhar da administração pública mais voltado para as artes visuais, especialmente, para o cinema negro. O Encontro de Cinema Negro, fruto do trabalho valoroso de Zózimo Bulbul e sua companheira Biza Vianna, é um exemplo de iniciativa que converge para os objetivos da Fundação Palmares, da Secretaria do Audiovisual e demais órgãos ligados ao Ministério da Cultura”, destacou.

O presidente ainda ressaltou que é importante dialogar e trabalhar para implementar, no ambiente da cultura, aquilo que dispõe o Estatuto da Igualdade Racial, no que diz respeito ao desenvolvimento de políticas públicas e ações afirmativas que contemplem a população negra. “ Parabéns ao Zózimo, a Biza, aos cineastas e artistas que possibilitam esse belo trabalho”, finalizou Eloi Ferreira.

Cronologia dos Encontros de Cinema Negro – A estreia, em 2007, voltou-se para filmes do Brasil e da África e reuniu 60 produções, entre curtas, médias e longas metragens. O primeiro Encontro foi dedicado a Ousmane Sembène, considerado “o pai do cinema africano”.

No ano seguinte, a mostra ampliou, incluindo filmes da América Latina e diversificou as atividades da programação. Estudantes de diferentes pontos do Rio de Janeiro e o público em geral passavam a participar de seminários e de oficinas que mostravam a História Negra e ensinavam a elaboração de roteiros e produção de cinema e vídeo. O homenageado foi o poeta brasileiro, Solano Trindade.

A terceira edição, em 2009, abrangeu as Américas, além de Brasil e África, homenageando o professor e diretor norte-americano Saint Clair Bourne, considerado um ícone do cinema negro por ter dado voz aos problemas raciais nos Estados Unidos.

O Encontro de 2010, incluiu o Caribe na programação e celebrou os 50 anos de independência dos países do oeste africano, consolidando sua posição entre os mais significativos eventos regulares de cultura negra produzidos no Brasil e sua trajetória internacional dos eventos dedicados ao tema.

O Encontro de Cinema Negro chegou à quinta edição, em 2011, consagrado não como um festival, que visa a competição, mas como um evento de intercâmbio cultural, conforme define seu idealizador, Zozimo Bulbul. “São filmes de grande qualidade que não terão exibição comercial no Brasil, e que também destacam o olhar de jovens cineastas”, afirma.
Chegada do público para a noite de lançamento do DVD, no Centro Cultural da Justiça Federal.

Axé para todos!!!

Igualdade Racial É Pra Valer!!!

MAIS UMA AFRONTA À CONSTITUIÇÃO E AOS DIREITOS COMUNS DO CIDADÃO

Brasília - DF 
No último dia 14 de março, o Conselho Curador da EBC realizou mais uma audiência pública para discutir a permanência, ou não, na programação da TV Brasil e da Rádio Nacional de Brasília dos programas católicos A Santa Missa e Palavras de Vida, vinculados à Arquidiocese do Rio de Janeiro, e do programa evangélico Reencontro, ligado à Igreja Batista, de Niterói. Os programas foram herdados da extinta Radiobras e da TVE do Rio e estão no ar há mais de 30 anos. A Rádio Nacional de Brasília, por exemplo, transmite a missa dominical, de orientação católica, desde a inauguração da cidade.
O debate envolvendo a transmissão dos programas religiosos teve início em 2009, a partir de comunicação do público à ouvidoria criticando a manutenção de programas de cunho religiosos na grade da TV Brasil. A primeira manifestação, que desencadeou o debate, chegou à ouvidoria no dia 21 de março de 2009, feita pelo telespectador Paulo Augusto Cunha Libânio, que dizia:
“A Constituição Federal de 1988 foi bem clara ao afirmar, em seu Artigo 19, Inciso 1, que 'é vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios: estabelecer cultos religiosos, subvencioná-los, embaraçar seu funcionamento ou manter com eles relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público'. Portanto, a existência de programas de cunho religioso na TV Brasil, uma emissora pública, é uma afronta à Constituição. Exijo, na condição de cidadão brasileiro, que a TV Brasil retire todos os programas de cunho religioso da sua grade de programação Caso contrário, caberá denúncia ao Ministério Público e, possivelmente, uma ação civil pública contra a TV Brasil. O Estado brasileiro é um Estado laico! Respeitem a nossa Constituição!”
Depois dessa, vieram outras manifestações públicas. Algumas reclamando da falta de pluralidade e outras pedindo a retirada dos cultos religiosos da programação da TV. Em março de 2010, o conselheiro Daniel Aarão Reis Filho chamou a atenção sobre a importância de se discutir a presença das religiões na TV Brasil, ao ressaltar que a religiosidade é uma dimensão absolutamente fundamental para o povo brasileiro, e sugeriu uma audiência pública sobre essa questão (ata da reunião do conselho no dia 30 de junho de 2010).
Em agosto de 2010, o Conselho Curador decidiu lançar edital de consulta pública para obter contribuições sobre a política de produção e distribuição de conteúdos de cunho religioso pelos veículos da EBC, considerando o Parecer nº 01/2010 da Câmara de Cultura, Educação, Ciência e Meio Ambiente do Conselho Curador, disponível na página eletrônica: www.ebc.com.br/conselho-curador/. A consulta foi concluída no mês de outubro e, ao todo, 141 contribuições de pessoas físicas e jurídicas serviram de base para o parecer da câmara recomendar a substituição dos programas que estavam sendo veiculados por outros em que a religiosidade no Brasil seria tratada de um ponto de vista plural, contemplando todas as religiões.
Depois de muitas discussões, o Conselho Curador aprovou, no dia 22 de março de 2011, a resolução apresentada pela câmara que determina que os programas religiosos devem sair do ar em setembro de 2011, ao mesmo tempo em que propõe que a Diretoria da EBC fique responsável por apresentar alternativas de programação, respeitando o critério de diversidade para compor a faixa religiosa na TV Brasil e nas rádios. De março a setembro, mês que se encerrariam as transmissões, a ouvidoria recebeu 87 reclamações, 2 a favor e 85 contra a decisão do Conselho Curador. Em setembro, uma semana antes de terminar o prazo, a Justiça Federal concedeu liminar à Arquidiocese do Rio de Janeiro garantindo a permanência dos programas na grade da Rádio Nacional de Brasília e da TV Brasil.
Até o dia da audiência, o impasse permaneceu, porque os programas ainda estão no ar por meio de ações de antecipação de tutela impetradas na Justiça Federal pela Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro e pela Igreja Batista de Niterói. Embora a audiência pública não tenha o poder de decidir sobre a permanência ou não dos programas religiosos na programação da TV e da rádio, pode contribuir para aprofundar o debate sobre a pluralidade de credos religiosos que compõem a nação brasileira em veículos públicos de comunicação. Na audiência do dia 14 de março, a ouvidoria aproveitou para recolher depoimentos de representantes de diversos credos religiosos, a fim de saber o que pensam sobre a questão.
Para a sacerdotisa da Igreja da Bruxaria (Abrawicca) Márcia Maria Bianchi, a audiência pública é imprescindível para que a sociedade participe e demonstre que as coisas não devem continuar como estão. “A decisão do Conselho da EBC de retirar da grade os programas religiosos confessionais, específicos de determinadas religiões, foi corretíssima e de acordo com a Constituição. Sendo uma emissora pública, os programas não podem ser bancados com o dinheiro público. Sobre isso, a Constituição é muito clara: o Estado não pode privilegiar nenhum tipo de culto, só pode abarcar coisas que contemplem toda a diversidade religiosa presente no povo brasileiro. O problema não é de quem são os programas, é haver qualquer programa que transmita cultos. Se fosse da minha religião também seria ilegal.”
O presidente da União Nacional das Entidades Islâmicas, Marcelo Salamuddin B. dos Santos, acredita que “se não houver a retirada dessa programação, que pelo menos isso propicie uma maior diversidade no sentido de se ouvir todos os segmentos religiosos. Achei a audiência pública extremamente boa, apesar de comentários lamentáveis que demonstram ainda uma grande intolerância religiosa”.
Já o cônego Marcos Bernardo, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, disse que a audiência pública foi enriquecedora, um momento de manifestação de maturidade. “Percebemos e temos consciência da pluralidade existente no Brasil, que deve ser mantida. Para a Igreja Católica, essa diversidade é enriquecedora. Por isso mesmo o nosso pedido de que haja mais espaço dentro de uma emissora pública para que as diferentes denominações se manifestem. Até mesmo para que aqueles que não professam a fé possam se manifestar. Acredito que fica um saldo muito positivo para a sociedade e, de modo especial, para a democracia brasileira.”
A presidente do Conselho Curador da EBC, Ana Fleck, acredita que o caminho agora é fazer uma sistematização dessas contribuições e encaminhar para o grupo consultivo embasar a proposta. “Nós temos uma reunião desse grupo consultivo no próximo dia 26 de abril para trabalhar em cima de propostas concretas. A resolução do conselho previu 120 dias para a conclusão dos trabalhos. Estamos trabalhando com esse horizonte. Se houver necessidade, prorrogaremos por mais um mês. Fiquei positivamente surpresa com o nível das contribuições e com a maturidade dos participantes. Evidentemente, alguns se sentiram um pouco incomodados, mas isso faz parte de um tema tão sensível e complexo, era de se esperar.”
O diretor do programa Reencontro, pastor Flávio Vieira Lima, da Igreja Batista de Niterói, achou a audiência pública excelente. “Eu disse para a ex-presidente do conselho, Ima Célia, e para a então presidente da EBC, Tereza Cruvinel, que o conselho começou errado. O que estamos fazendo hoje era o que deveria ter acontecido antes, há quase dois anos, em 2010. Mas tudo começa sempre por uma boa causa e chegou o momento, então, de colhermos as informações de todas as diversidades religiosas. E acho que as rádios devem ser inseridas nesse contexto, para no futuro fazermos a mesma coisa. Acho que o conselho tem que estudar o problema da TV e das rádios. Gostaria de alertar que o Congresso Nacional, por meio de várias representações, está de olho. Se a gente partir para um lado, digamos assim, de guerra religiosa, o Congresso vai ter que intervir, talvez até artigos da Constituição tenham que ser mudados para que se entenda a coisa. Falou-se aqui que existe perseguição religiosa, com pessoas morrendo no Brasil... Eu gostaria de saber quem são essas pessoas, sejam de qualquer religião, porque quero defendê-las.”
O conselheiro João Jorge Santos Rodrigues e presidente do grupo Olodum considerou a audiência um sucesso do ponto de vista de democratizar uma decisão que o Brasil precisa tomar. “A pluralidade religiosa é fundamental à modernização da comunicação do país. Ela não pode continuar sendo objeto de apenas um grupo, de um setor e, principalmente, com esses instrumentos tão importantes da comunicação sendo usados contra o candomblé, contra a umbanda, contra outras religiões. Há amadurecimento e compreensão disso, já saímos daquela fase do fanatismo que diziam que queriam acabar com os programas religiosos. Os brasileiros que não estavam até agora na grade da TV Brasil e da rádio não podem continuar a ficar de fora. A gente propõe é que quem tinha esse programa seja generoso e construa junto conosco outras formas de fazer isso. Será um exemplo para outras televisões, para os meios de comunicação, e dará oportunidade a milhões de brasileiros que não expressam suas religiões”.
Como vimos pelos depoimentos, a questão é polêmica e a EBC tem um grande desafio pela frente. Se, de um lado, a decisão for pela permanência dos cultos religiosos na programação, a EBC terá a tarefa de incluir outros segmentos religiosos. Neste caso, como ficará a programação da TV e da Rádio Nacional, já que existem hoje no Brasil mais de 100 religiões, segundo o último Censo do IBGE? Se, de outro lado, a solução for pela retirada dos cultos e a inclusão de um programa que discuta a religião do ponto de vista cultural, como pensar um formato sem que nenhum segmento religioso se sinta excluído?
Enfim, seja qual for o resultado dessa discussão, só o fato de o Conselho Curador convocar audiências públicas envolvendo diferentes setores da sociedade para discutir uma questão tão polêmica já reforça o compromisso da EBC com a comunicação pública. Se o sistema público de comunicação quiser de fato reforçar seu caráter público, tem que pensar uma possibilidade que mostre a religiosidade nas suas mais diversas visões. Caso contrário, estará cerceando uma discussão cultural do povo brasileiro, que é essencial.